Para Tomás Navarro Tomás e a sua equipa, a transcrição fonética era de importância capital no momento de recolher e editar os seus materiais linguísticos. E isto era normal na Europa filológica da época. Ramón Menéndez Pidal tinha enviado Navarro Tomás, com um subsídio da Junta para la Ampliación de Estudios, para que se formasse nos melhores laboratórios de fonética em França, na Suiça e na Alemanha. De volta a Madrid, Navarro Tomás criou o Laboratório de Fonética na Sección de Filología do Centro de Estudios Históricos e, de facto, os trabalhos do ALPI enquadravam-se nos do Laboratório.

 

Referindo-se à importância que dava à transcrição fonética no atlas, Navarro Tomás escreveu:

El valor demostrativo de estos mapas […] es mérito de la detallada precisión de sus transcripciones. Una investigación realizada con menos rigor analítico y con transcripción menos estrecha, habría resbalado por encima de muchos de estos pormenores tan significativos para el cabal conocimiento de la materia. En efecto, no se trata de detalles fuera del alcance de una observación adecuada. Son sentidos de manera general, pero sólo adquiere conciencia de ellos el oído adiestrado para definirlos.

Visto a la distancia de los cuarenta años transcurridos, no se puede decir que el plan del ALPI ni el método seguido en su elaboración hayan perdido actualidad ni consistencia. Si hoy hubiera que repetir la empresa, habría que aplicar las mismas normas. No se ha descubierto manera de estudiar la lengua popular sin ir a buscarla a su propio terreno. Tampoco hay modo de representar esa lengua sin imponerse limitaciones de sujetos y de lugares. Los aparatos mecánicos sólo prestan una ayuda relativa. El oído convenientemente ejercitado sigue siendo el instrumento más perfecto. Muchas veces, al repasar en la oficina una cinta magnetofónica, se echa de menos la presencia de la persona que la inscribió.

[O valor demonstrativo destes mapas […] é mérito da detalhada precisão das suas transcrições. Uma investigação realizada com menos rigor analítico e com transcrição menos estreita, teria passado por cima de muitos destes pormenores tão significativos para o cabal conhecimento da matéria. Com efeito, não se trata de detalhes fora do alcance de uma observação adequada. São percebidos de maneira geral, mas só adquire consciência deles o ouvido treinado para defini-los.

Tendo em conta os cuarenta anos já passados, não se pode dizer que o plano do ALPI nem o método seguido na sua elaboração tenham perdido actualidade nem consistência. Se, agora, tivesse que repetir o processo, aplicaria as mesmas normas. Não se descobriu maneira de estudar a língua popular sem ir recolhê-la no seu próprio terreno. Tão pouco há maneira de representar essa língua, sem se impor limitações de sujeitos e de lugares. Os equipamentos mecânicos só prestam uma ajuda relativa. O ouvido convenientemente treinado continua a ser o instrumento mais perfeito. Muitas vezes, ao ouvir uma fita magnética no gabinete, sente-se a falta da presença da pessoa gravada.]

                                                                                                                                                                                                          (Navarro Tomás 1975: 19)

Deve-se a Navarro Tomás a criação do Alfabeto Fonético da Revista de Filología Española (RFE, II, 1915: 374-376), um alfabeto extraordinariamente rico em matizes, que adaptava às falas peninsulares os sistemas de transcrição doutros atlas europeus com alguns símbolos do Alfabeto Fonético Internacional (AFI). Ele próprio se encarregou de treinar os futuros inquiridores do atlas na utilização rigorosa deste alfabeto que, durante muito tempo, foi uma referência para a maior parte dos atlas linguísticos do mundo hispânico.

 

O alfabeto fonético na Revista de Filología Española

Alfabeto fonético 374     El alfabeto fonético 375     El alfabeto fonético 376

 

A Introducción do ALPI dedica oito páginas de grande formato a descrever pormenorizadamente o alfabeto fonético que utiliza. Ali se explica a razão pela qual, na altura de cartografar os dados, optaram por simplificar a transcrição que tinha sido utilizada nos inquéritos:

Se estimó conveniente simplificar en algunos casos las transcripciones fonéticas sacrificando ciertos matices, con el doble fin de unificar el criterio de los transcriptores y de facilitar la lectura de las notaciones; en esta labor se tuvieron muy en cuenta las instrucciones de don Tomás Navarro.

[Julgou-se conveniente simplificar, nalguns casos, as transcrições fonéticas, renunciando a certas matizações; sacrificando alguns traços; sacrificando algumas características com a dupla finalidade de unificar o critério dos transcritores e de facilitar a leitura das transcrições; nesta tarefa tiveram-se muito presentes  as instruções de dom Tomás Navarro.]

                                                              (Introducción al ALPI, 1962 : 6)